OBSERVAÇÃO IMPORTANTE:

IMPORTANTE: Este blogue não tem a pretensão de ser um site científico e nem de ser uma fonte para estudos. Apenas lançamos as questões e estimulamos o debate e a análise, servindo apenas para ponto de partida para estudos mais detalhados. Para quem quiser se aprofundar mais, recomendamos a literatura detalhada das obras de Allan Kardec - principalmente "O que é o Espiritismo" e visitar fóruns especializados, que não façam parte da Federação "Espírita" Brasileira.

Os textos aqui publicados são de responsabilidade de seus autores e correspondem ao ponto de vista pessoal de seus responsáveis, sejam ou não resultado de estudos.

terça-feira, 30 de abril de 2013

Preto Velho, Pomba Gira, Exu, face as Reuniões Mediúnicas Espíritas

Por Maria das Graças Cabral - Um olhar espírita

Andam muito em voga as obras literárias da autoria de cientistas de formação humanista, como antropólogos, sociólogos, pedagogos e historiadores, que se propõem a estudar o Espiritismo, fazendo suas pesquisas sob a ótica própria da sua área de conhecimento. As conclusões obedecem às limitações impostas pelos objetivos pré-determinados pela pesquisa, apresentando algumas incongruências com o pensamento espírita, posto que, seu entendimento é oriundo de um “outro olhar”.

 E foi lendo uma dessas obras intitulada “Espiritismos – Limiares entre a vida e a morte”, que me deparei com a seguinte assertiva feita pela autora Maria Ângela Vilhena, quando trata de “Dinâmicas da Auto Compreensão Espírita no Brasil”, senão vejamos:

(...) “A valorização do conhecimento letrado, da erudição, do refinamento intelectual atua no sentido de no momento presente excluir dos centros kardecistas os que no passado, quando encarnados, não tiveram acesso a esses bens culturais porque foram pobres, negros, índios. Ergue-se assim uma barreira simbólica, um fosso invisível a afastar do kardecismo os brasileiros menos favorecidos economicamente, discriminados pelo sangue e pele, contaminados por tradições religiosas de procedência não europeia. Eis porque, para muitos analistas do movimento espírita kardecista, aqui estariam, ainda que de maneira velada, traços provenientes de preconceitos de classe, cor, religião e cultura que grassam na sociedade brasileira”. (2008: p. 130) (grifo nosso)

Adiante acrescenta em um tópico intitulado TENDÊNCIA INCLUSIVISTA o seguinte:

(...) “Neles não faltam questionamentos à FEB e a certos centros a ela filiados, que não recebem espíritos de pretos velhos, índios, caboclos, mas apenas literatos, pintores, padres, freiras de cútis branca, olhos azuis”. (2008: p. 141) (grifo nosso)

Diante do exposto, farei resumidamente algumas considerações, de acordo com o que está positivado em O Livro dos Espíritos. Asseveram os Mestres espirituais da Codificação, que somos todos Espíritos em evolução e fomos criados simples e ignorantes; que temos o livre-arbítrio para escolher nossos caminhos, daí, alguns avançarem mais rapidamente rumo à perfeição, e outros mais lentamente; que mais cedo ou mais tarde, todos alcançarão a condição de Espírito Perfeito; e que segundo o grau de perfeição se tem Espíritos de diferentes ordens, que vai da Imperfeição à condição de Espírito Puro.

A Doutrina Espírita estabelece que com a morte do corpo material, o Espírito leva para o plano espiritual todas as aquisições intelectuais e morais. Não vira santo, nem gênio, nem demônio. Continua sendo o que é, com seus vícios, virtudes, crenças, dores morais, desequilíbrios, amores e ódios. Que passará um tempo na condição de Espírito errante, estudando o seu passado e procurando o meio de se elevar.

Também nos é dito que o Espírito desencarnado não perde sua individualidade e utiliza-se de um envoltório semimaterial (períspirito) que toma uma forma visível e palpável, e apresenta a aparência da sua última encarnação.

Fica claro que toma esta aparência, pois é assim que se percebe, se identifica, e se faz reconhecer. Portanto, se desencarnou como negro (a) ou oriental, assim se apresentará e se perceberá. Entretanto, se numa próxima encarnação, reencarnar como um (a) mulato (a), ou branco (a), assim se apresentará e se perceberá. Até porque o Espírito não tem cor nem sexo. Apenas utiliza-se do corpo material para o seu desenvolvimento espiritual, e por consequência, seu períspirito, no papel de elo entre a matéria e espírito, e de envoltório do espírito quando desencarnado, mantém a forma do corpo físico que habitou.

Vale ressaltar, que a aparência o identifica e individualiza. Então se questiona: - Será que alguém que encarnou como escravo, índio, mulato, branco, passará a se apresentar “sempre” com essas características mesmo depois de várias outras encarnações? E se insistir em se fazer conhecer e se identificar com essa forma, qual seria seu propósito?

Asseveram os Mestres Espirituais, que pode o Espírito se apresentar e se identificar sob a forma de uma encarnação transata, desde que haja necessidade de se fazer reconhecer por alguém (uns) que o conheceu sob aquela forma e identidade.

No que concerne à identidade dos Espíritos, outro aspecto relevante a ser proposto, diz respeito aos vários Espíritos da Codificação que se apresentam com nomes de grandes personalidades terrenas como Sócrates, Platão, Santo Agostinho, Erasto, etc. Não obstante, tais pessoas foram individualidades que passaram pela Terra traçando uma rica experiência encarnatória, deixando seus nomes eternizados pela grandeza dos feitos realizados.

Dizem os Mestres espirituais, que muito comumente Espíritos de alta elevação se apropriam de nomes conhecidos e respeitados na Terra, para trazerem mensagens esclarecedoras ou revelações, objetivando serem estas mais facilmente acatadas pela humanidade.

Como também muitos outros Espíritos se apresentam com os nomes de suas últimas encarnações, como pessoas comuns que fizeram parte da humanidade terrestre. São os inúmeros “Joãos”, “Marias”, “Alices”, “Elizabetes”, “Fredericos”, etc., que também viveram na Terra, e narram suas histórias eivadas de vitórias, e/ou insucessos, independente de raça, credo ou condição social. E esses relatos estão fartamente presentes nas Obras Fundamentais incluindo as Revistas Espíritas, a título de ensinamento.

Não obstante, no que concerne ao Preto Velho, a Pomba Gira, ao Exu, ao Satanás, a Iemanjá, ao Anjo Gabriel, ao Anjo Ismael, ao Saci Pererê, a Mula sem Cabeça, etc., não passam de figuras mitológicas ou folclóricas. Ou seja, essas individualidades nunca existiram.

Pode-se entender que alguns Espíritos se façam identificar com tais denominações, ou assumindo tais formas (em face da plasticidade do períspirito) tendo como objetivo, despertar respeito, reverência, credibilidade, assustar ou aterrorizar os crédulos.

Afinal, ninguém é “Preto Velho” nem “Pomba Gira”, nem “Satã”, muito menos os Espíritos de alta evolução andam tomando forma de “Anjos” cacheados e com asas, para serem acatados e respeitados pelos encarnados. Tais recursos apenas denotam o nível de ignorância de tais Espíritos, que ainda procuram recorrer a essas formas e identidades para chamar a atenção daqueles que acreditam, e assim alcançarem objetivos frequentemente não muito nobres.

Oportuno pontuar, que as reuniões mediúnicas espíritas, devem ter caráter educativo e esclarecedor tanto para encarnados, como para desencarnados. Observa-se que Kardec exaustivamente apresenta nas obras fundamentais, as reuniões mediúnicas como a parte prática e educativa da Doutrina dos Espíritos, já que esta tem dentre seus fundamentos, a comunicabilidade e interação entre os dois planos da vida.

Vale ressaltar, que todos os diálogos travados numa mediúnica se desenvolvem num clima de respeito e recolhimento, numa busca incessante de aprendizado e esclarecimento por parte dos interlocutores encarnados e desencarnados.

Daí, por exemplo, se um Espírito se apresenta na reunião mediúnica espírita identificando-se como: - “Sou o Saci Pererê”, ou, “sou o Preto Velho”, ou ainda, “sou a Pomba Gira”, obviamente, que se buscará saber quem ele é realmente, para que se possa analisar a sua problemática. Não se deve jamais fomentar a “fantasia” de individualidades que se apresentam como figuras folclóricas e/ou mitológicas.

Portanto, o Espiritismo não exclui o atendimento a Espíritos de negros, índios ou pobres. Muito pelo contrário, acolhe e respeita a todos. Não obstante, sendo uma Doutrina filosófica e moral, não acolhe superstições e crendices. Na realidade, a Doutrina Espírita busca esclarecer e educar o Espírito humano, conduzindo-o para sua emancipação espiritual.

O Espiritismo assevera que ninguém é anjo ou demônio. Somos todos Espíritos, criados simples e ignorantes, em processo evolutivo, e que temporariamente utilizamo-nos de corpos, e vivenciamos a maldade e a dor, por pura ignorância, no sentido de ignorar, de desconhecer, de faltar habilidade para vivenciar a Lei de Amor.

Entretanto, mais cedo ou mais tarde alcançaremos a condição de Espíritos Puros. Seremos Seres Cósmicos livres do processo reencarnatório, expandindo todo o potencial de bondade, de beleza e paz, em favor de todos os seres.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

VILHENA, Maria Ângela. Espiritismos – Limiares entre a vida e a morte. Ed. Paulinas. 1ª edição. São Paulo/SP. 2008.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Ed. LAKE, 62ª edição. São Paulo/SP. 2001.

sábado, 27 de abril de 2013

O Que Está por Trás da Apometria?

Artur Azevedo - Blog Ramatis, Sábio ou Pseudo-sábio?

Nos últimos tempos temos observado a propagação da Apometria no meio espírita sem que se tenha a preocupação em verificar se a mesma encontra respaldo na Doutrina Espírita.

Basicamente, sem que nos alonguemos em demasiado, poderíamos dizer que, logo à primeira vista, verificamos tratar-se de uma suposta técnica de cura associada à mediunidade e pseudo-técnicas de desdobramento e desobsessão.

Os apômetras, entre eles boa parte composta de simpatizantes e médiuns de Ramatis, como Norberto Peixoto, Dalton Roque , Wagner Borges e Márcio Godinho, adotam terminologias diversas daquelas utilizadas pela Doutrina Espírita e conceitos de crenças orientais. Além disso, certas afirmações por parte de seus seguidores e divulgadores colidem com a mais pura razão e com o método espírita:

1) O perdão da parte de adversários seculares é quase instantâneo, após serem submetidos à técnica. Quando a mesma não ocorre, tais espíritos são enviados "à força" para o magma incandescente da Terra ou encapsulados em "bólidos espaciais" para fora da planeta e mesmo de nossa galáxia(!);

2) Segundo a Apometria, há incorporação de "vários corpos" (sete!), de uma só personalidade, encarnada, ou não, em vários médiuns, com doutrinação simultânea, nas "manifestações desses corpos";

3) Utilização de pirâmides, cristais, rituais, maneirismos, gestual exótico, terminologia esdrúxula e pseudo-científica ("salto quântico", "spin", "despolarização de memória", "campos magnéticos", "força Zeta", "chips astrais", "potência quadrática", contagem em português ou grego e "pulsos energéticos") com o fito de dar à "técnica" um ar de sofisticação e inovação;

4) Crença na existência de implantes de "chips" no perispírito das pessoas por parte de espíritos obsessores, apelidados pelos apômetras de "magos negros", e que só a técnica apométrica é capaz de extirpar...

Como podemos notar, mais uma vez verificamos o quanto é lamentável quando a razão e a fé racional, cujo uso é tão incentivado pelos Espíritos Superiores, cede espaço para o misticismo bizarro, para o exotismo e para a fé cega travestida de "inovação" e "novidade".

A Doutrina Espírita, no entanto, bem estudada e compreendida, constitui-se o antídoto seguro contra todas as tentativas inglórias de sua deturpação.

P.S. Quem desejar conhecer em detalhes o passo-a-passo de uma reunião com utilização de apometria, acesse:

http://www.grupopas.com.br/download/roteiro_reuniao.pdf

http://www.apometria.info/apometria/tecnicas.asp

Embora as mesmas não citem todas as variantes da prática, dá ao leitor uma boa idéia do que seja e de sua dissociação completa com o Espiritismo.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

A Escala Espírita e a Definição de espírito pseudo-sábio

Por Artur Azevedo - Blog Ramatis, Sábio ou Pseudo-sábio?

A classificação dos Espíritos funda-se no seu grau de desenvolvimento, nas qualidades por eles adquiridas e nas imperfeições de que ainda não se livraram. Na Escala Espírita, os Espíritos admitem três categorias principais, ou três grandes divisões: Na última, aquela que se encontra na base da escala, estão os Espíritos imperfeitos, caracterizados pela predominância da matéria sobre o espírito e pela propensão ao mal. Os da segunda, se caracterizam pela predominância do espírito sobre a matéria e pelo desejo de praticar o bem; são os Espíritos bons. A primeira, enfim, compreende os Espíritos puros, que atingiram o supremo grau de perfeição.

Os Espíritos não pertencem para sempre e exclusivamente a esta ou aquela classe; o seu progresso se realiza gradualmente, e como muitas vezes se efetua mais num sentido do que em outro, eles podem reunir as características de várias categorias, o que é fácil avaliar por sua linguagem e por seus atos.

Terceira Ordem: Espíritos Imperfeitos

Sétima classe. ESPÍRITOS pseudo-sábios. - Seus conhecimentos são bastante extensos, mas, crêem saber mais do que sabem em realidade. Tendo alcançado algum progresso em diversos pontos de vista, sua linguagem tem um caráter sério que pode enganar sobre as suas capacidades e as suas luzes; mas, o mais freqüentemente, não é senão um reflexo dos preconceitos e das idéias sistemáticas da vida terrestre; é uma mistura de algumas verdades ao lado dos mais absurdos erros, no meio dos quais descobrem a presunção, o orgulho, o ciúme e a teimosia dos quais não puderam se despojar. ("O Livro dos Espíritos", questão 100)

domingo, 21 de abril de 2013

Kardecismo sem Kardec

Os espiritólicos adoram puxar o saco de Kardec. Citam seu nome, vendem seus livros, comemoram datas e - absurdo! - colocam a figura do professor francês em lendas absurdas que mais parecem histórias para fazer criança dormir. Tudo isso sem pesquisar e analisar seriamente as obras kardecianas. Certamente, Kardec reprova esse puxa-saquismo e ainda mais a colocação de seu nome em teses absurdas.

Porque os supostos espíritas brasileiros adoram se rotular "kardecistas" se tudo o que eles defendem é facilmente negado por Kardec nas obras que escreveu? O Espiritismo brasileiro, talvez seguindo a tradição católica e também carnavalesca do povo, inseriu um monte de fantasias que parecem mais ter saídas de contos de fada dos mais infantis. 

Essas fantasias tem servido para desviar o foco e atrasar a evolução da humanidade e tem se mostrado eficiente na satisfação de espíritos inferiores, sobretudo os católicos, já que temem o desenvolvimento intelectual que faria mudanças radicais, eliminando as injustiças que favorecem a poucos poderosos.

Apesar de puxarem o saco do mestre lionês, os brasileiros preferem seguir as (des)orientações de um pacto médium mineiro, manobrado pela FEB e que ganhou uma falsa reputação que o faz ser ouvido cegamente pelos seus seguidores, inserindo igrejismo naquilo que deveria ser ciência e enganando a todos com falsas promessas de evolução da humanidade, bem mais fantasiosa e rápida (??!!) do que naturalmente deveria ser.

Com Chico Xavier, o Espiritismo virou um desfile de absurdos, de lendas impossíveis de ser realizadas, de dogmatismo tão alienado e alienante que os das outras religiões. Arrancou violentamente o caráter científico que havia nos tempos kardecianos, fazendo sobrar apenas o nome, que serve para dar credibilidade a um monte de absurdos irracionais difundidos insistentemente em palestras e livros por todo o país.

Com o foco totalmente desviado para o poosto do que queria Kardec, o Espiritismo brasileiro segue ainda forte na "missão" de alienar as massas, dando credibilidade a espíritos mentirosos que, disfarçados de "sãbios" dominam seus seguidores como verdadeiros pastores, tratando-os como meros carneiros passivos que simplesmente se limitam a obedecer as suas ordens.

E finalmente os brasileiros conseguem o que deveria ser impossível: um Kardecismo sem Kardec, totalmente contrário ao que foi pesquisado exaustivamente pelo professor, na França do século XIX. As suas conclusões racionais foram hoje trocadas por um monte de fantasias imbecis que travam a evolução sobretudo intelectual dos espíritas brasileiros, mantendo todas as injustiças e erros que estamos cansados de ver em nosso cotidiano, resultantes de nosso atrofiado senso moral e mais ainda atrofiada capacidade de raciocínio.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Espiritismo e Espiritualismo

Por Allan Kardec, em 1857 - O Livro dos Espíritos*

Para as coisas novas necessitamos de palavras novas, pois assim o exige a clareza de linguagem, para evitarmos a confusão inerente aos múltiplos sentidos dos próprios vocábulos. As palavras espiritual, espiritualista, espiritualismo têm uma significação bem definida; dar-lhes outra, para aplica-las à Doutrina dos Espíritos, seria multiplicar as causas já tão numerosas da anfibologia. Com efeito, o espiritualismo é o oposto do materialismo; quem quer que acredite haver em si mesmo alguma coisa além da matéria é espiritualista; mas não se segue dai que creia na existência dos Espíritos ou em suas comunicações com o mundo visível.

Em lugar das palavras espiritual e espiritualismo, empregaremos, para designar esta última crença, as palavras espírita e espiritismo, nas quais a forma lembra a origem e o sentido radical e que por isso mesmo têm a vantagem de ser perfeitamente inteligíveis, deixando para espiritualismo a sua significação própria. Diremos, portanto, que a Doutrina Espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível. Os adeptos do Espiritismo serão os espíritas, ou, se o quiserem, os espiritistas.

Como especialidade O Livro dos Espíritos contém a Doutrina Espírita; como generalidade liga-se ao Espiritualismo, do qual apresenta uma das fases. Essa a razão por que traz sobre o título as palavras: Filosofia Espiritualista.

*(Tradução de J. Herculano Pires)

domingo, 7 de abril de 2013

Não há Médiuns Infalíveis

Por Sérgio Aleixo - Ensaios da Hora Extrema

De extremo fanatismo são as premissas que desnorteiam o pensamento dos sectários mediunistas, aqueles que não suportam qualquer crítica à produção de seus médiuns favoritos, produção que, na verdade, é dos espíritos. O pressuposto errôneo em que se apoiam é o da “folha de serviço”, isto é, os médiuns que muito se dedicam à caridade não seriam passíveis de ser enganados, pois os espíritos protetores não o permitiriam. Eis o erro. É função dos benfeitores estimular nos médiuns a responsabilidade do exercício de sua razão. O discernimento, portanto, este sim, é que constitui o melhor contraveneno às inoculações dos espíritos pseudossábios nos comunicados de além-túmulo. Sou eu quem o diz? Não, em absoluto. É Allan Kardec:

    Pelo próprio fato de o médium não ser perfeito, Espíritos levianos, embusteiros e mentirosos podem interferir em suas comunicações, alterar-lhes a pureza e induzir em erro o médium e os que a ele se dirigem. Eis aí o maior escolho do Espiritismo e nós não lhe dissimulamos a gravidade. Podemos evitá-lo? Dizemos altivamente: sim, podemos. O meio não é difícil, exigindo apenas discernimento. [...]

    As boas intenções, a própria moralidade do médium nem sempre são suficientes para o preservarem da ingerência dos Espíritos levianos, mentirosos ou pseudossábios, nas comunicações. Além dos defeitos de seu próprio Espírito, pode dar-lhes guarida por outras causas, das quais a principal é a fraqueza de caráter e uma confiança excessiva na invariável superioridade dos Espíritos que com ele se comunicam. [1]

    Ora, prova a experiência que os maus se comunicam tão bem quanto os bons. Os que são francamente maus são facilmente reconhecíveis; mas há também, entre eles, semissábios, pseudossábios, presunçosos, sistemáticos e até hipócritas. Estes são os mais perigosos, porque afetam uma aparência de gravidade, de sabedoria e de ciência, em favor da qual enunciam, em meio a algumas verdades e boas máximas, as coisas mais absurdas. [...]

    Separar o verdadeiro do falso, descobrir o embuste escondido numa exibição de palavras bonitas, desmascarar os impostores, eis, sem contradita, uma das maiores dificuldades da ciência espírita. Para superá-la, faz-se necessária uma longa experiência, conhecer todas as astúcias de que são capazes os Espíritos de baixa classe, ter muita prudência, ver as coisas com o mais imperturbável sangue-frio e, sobretudo, guardar-se contra o entusiasmo que cega. [2]


Entretanto, afora os defeitos do próprio Espírito dos médiuns, o que mais se vê é justamente a fraqueza de caráter; nada referente, aqui, a desonestidade, ou má-fé, e sim a um problema de atitude pessoal. Não raro, esquivam-se da responsabilidade de julgar, ou de submeter ao juízo de outrem, aquilo que recebem. Em geral, há neles confiança excessiva na invariável superioridade dos Espíritos que supostamente os orientam, ou que por si mais se comunicam e, portanto, não se guardam contra o entusiasmo que cega.

Tal postura contamina os eventuais seguidores e eis então o sectarismo mediunista, esse estado deplorável de dormência da razão, que vem incapacitando os espíritas de enxergar, em meio a algumas verdades e boas máximas, as coisas mais absurdas; que os têm feito esquecer que os maus se comunicam tão bem quanto os bons, razão pela qual nem sempre hão estado prontos a descobrir o embuste escondido numa exibição de palavras bonitas, a fim de desmascarar os impostores.

Não, não há médium infalível, ou perfeito, num mundo de provas e expiações. O que pode haver, no máximo, é um “bom médium, e já é muito, pois são raros”, diz a Doutrina Espírita. E mais:

    O médium perfeito seria aquele que os maus Espíritos jamais ousassem fazer uma tentativa de enganar. O melhor é o que, simpatizando somente com os bons Espíritos, tem sido enganado menos vezes. [...] Os Espíritos bons permitem que os melhores médiuns sejam às vezes enganados, para que exercitem o seu julgamento e aprendam a discernir o verdadeiro do falso. Além disso, por melhor que seja um médium, jamais é tão perfeito que não tenha um lado fraco, pelo qual possa ser atacado. [3]

E Chico Xavier? Seria exceção aos princípios kardecianos? Seria um médium cujo espírito não teria defeitos que ensejassem a eventual ingerência de pseudossábios nas obras que psicografou? Em rede nacional, dia 21/12/1971, disse:

    “[...] nos informamos com ele [Emmanuel] de que, em outras vidas, abusamos muito da inteligência [...]”. E reproduziu também as palavras do jesuíta: “Você não escreverá livros, em pessoa, porque você mesmo renunciou a isso [...] seu espírito, fatigado de muitos abusos dentro da intelectualidade, quis agora ceder as suas possibilidades físicas a nós outros, os amigos espirituais”. [4]

Então que a razão responda. Em setembro de 1937, Chico assinou o prefácio do livro de seu guia, cujo título, sintomaticamente, traz o nome do próprio Espírito: “Emmanuel”. O que mais o impressionou, em 1931, foi que “a generosa entidade se fazia visível dentro de reflexos luminosos que tinham a forma de uma cruz”. Termina isentando-se por completo: “Entrar na apreciação do livro, em si mesmo, é coisa que não está na minha competência”.

Naturalmente, a “competência” coube aos editores rustenistas da F.E.B., desde todo o sempre, os formadores da personalidade mediúnica de Chico Xavier. Resultado: a generosa entidade de luzes em forma de cruz apresentou o perispírito na condição de “sede das faculdades, dos sentimentos, da inteligência e, sobretudo, o santuário da memória”, bem como afirmou, astronáutica, que “Marte ou Saturno já atingiram um estado mais avançado em conhecimentos, melhorando as condições de suas coletividades”. [5]

Esta sempre foi a postura equívoca de Chico Xavier ante os comunicados que recebia: simples máquina de escrever. Não se aplicava em discernir os conteúdos. Detinha-se nos aspectos morais. Isso por certo encorajou os autores a dizer tudo o que queriam, sem resistência. E tudo era publicado, afinal vinha de um médium “perfeito”. E agora? Agora, os leitores que se virem com as impropriedades de todas as ordens, as almas gêmeas, a alimentação “física”, as salas de banho, os eventos com entrada paga, os animais no além, entre tantas outras inverdades que suas obras veiculam tão candidamente, nessa falsa complementação febiana a Kardec; sim, falsa, porque o contradiz ao mesmo tempo em que o exalta; um perigo mortal, uma armadilha perfeita aos espíritas desavisados. [6]


    Os médiuns de mais mérito não estão ao abrigo das mistificações dos Espíritos embusteiros; primeiro, porque não há ainda, entre nós, pessoa assaz perfeita, para não ter algum lado fraco, pelo qual dê acesso aos maus Espíritos; segundo, porque os bons Espíritos permitem mesmo, às vezes, que os maus venham, a fim de exercitarmos a nossa razão, aprendermos a distinguir a verdade do erro e ficarmos de prevenção, não aceitando cegamente e sem exame tudo quanto nos venha dos Espíritos; nunca, porém, um Espírito bom nos virá enganar; o erro, qualquer que seja o nome que o apadrinhe, vem de uma fonte má. Essas mistificações ainda podem ser uma prova para a paciência e perseverança do espírita, médium ou não; e aqueles que desanimam, com algumas decepções, dão prova aos bons Espíritos de que não são instrumentos com que eles possam contar. [7]

    Bem entendido que nada disso tem o poder de anular a consolação prodigalizada mediante suas faculdades; sobretudo, a tantos aflitos com a perda de seus queridos, e a quem Deus, antes de mais ninguém, é que permitiu se comunicassem de modo tão patente. O Espiritismo, todavia, não se detém nesse ângulo da questão. O fenômeno é uma coisa; o conteúdo, o saber que pode ser integrado ao corpo da Doutrina, é outra, e está num andar mais alto, diz respeito a algo maior que um médium, ou um espírito: se prende à transmissão das verdades às gerações futuras, impossível sem discernimento, porquanto estas verdades sempre têm seu cortejo inevitável de erros, e o Espiritismo mostra onde estão as verdades, sim, mas também onde estão os erros. [8]


[1]  Revista Espírita. Fev/1859. Escolhos dos Médiuns. [2] Revista Espírita. Abr/1860. Formação da Terra.
[3] O Livro dos Médiuns, 226, 9.ª e 10.ª
[4] DVD Pinga-Fogo 2. Clube de Arte. Menu: 39 e 41.
[5] Emmanuel. 15.ª ed., FEB, pp. 133 e 21. Cf. Kardec Versus Emmanuel em 12 Passos, http://ensaiosdahoraextrema.blogspot.com/2011_06_12_archive.html.
[6] Cf. Sobre André Luiz. http://ensaiosdahoraextrema.blogspot.com/2010_09_02_archive.html.
[7] KARDEC, O Que é o Espiritismo. Cap. II, n. 82.
[8] Instruções de Santo Agostinho. Cf. Revista Espírita. Jul/1863. Sobre as Comunicações dos Espíritos. Grupo Espírita de Sétif, Argélia. O Livro dos Espíritos. Conclusão, IX.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Chico Xavier: o homem, o médium e o mito

NOSSO COMENTÁRIO: Observação coerente sobre o maior médium do Brasil, que aniversaria hoje. Xavier foi o maior deturpador da doutrina, já que os seus livros psicografados entram em evidente contradição com os pontos da doutrina codificada por Kardec. Ele não quis desenvolver seu intelecto, foi submisso a seu obsessor e emperrou a humanidade na evolução espiritual, graças aos erros que permitiu publicar. Vai pagar muito por ter enganado a todos.

Chico Xavier: o homem, o médium e o mito

Por Maria Ribeiro - 23:06 O Blog dos Espíritas

O primeiro contato com o Espiritismo de uma grande parcela de adeptos se faz através de obras como Nosso Lar e similares, o que não deve representar nenhum constrangimento, mesmo porque, são poucos os que podem se vangloriar de terem se iniciado realmente pelo começo – as obras básicas.

Ouve-se falar, principalmente das obras de André Luiz e Emmanuel em parceria com o Chico, as melhores referências, como se estas não só complementassem, mas substituíssem as obras básicas. Particularmente, já ouvimos mais de uma vez que o livro Nos domínios da mediunidade é um tratado do assunto, deixando O Livro dos Médiuns em plano secundário, o que é um atentado violento ao trabalho de Kardec e às instruções do Espírito de Verdade. Há quem diga que, depois de O Livro dos Espíritos, o livro Nosso Lar é o segundo mais importante da Doutrina. Uma grande parte acredita que estas obras sejam basilares para a compreensão do Espiritismo, pois tudo está lá, dizem.

Obras da série André Luiz, as de Emmanuel, bem como as de outros médiuns e Espíritos , se fazem admirar pela forma muito bem elaborada com que são produzidas, e não há que se retirar-lhes este mérito: são excelentes escritores. O dilema está quando se compara certos conceitos ditados nestas obras com os que constam no legado kardequiano, e passa-se a perceber diferenças que jamais se conciliariam. Nós, particularmente, com as profícuas trocas de idéias com companheiros e maior tempo dedicado à leitura da Obra Espírita, aos poucos, nos tornamos mais cautelosa e, felizmente, atualmente, podemos nos dizer uma estudiosa menos imprudente.

Nos últimos tempos surgiram diversos artigos excelentes que analisam obras do Chico e de outros médiuns à luz da Doutrina Espírita; o que é extremamente oportuno e importante, afinal o Espiritismo também ensina que não se devem aceitar tudo o que vem dos Espíritos sem o crivo da razão e da lógica, pois falam segundo seu grau de evolução e em muitos casos, dão informações sem se preocuparem com a verdade, por pura fanfarrice.

O movimento espírita em vigência consagrou algumas obras sem se utilizar dos critérios estabelecidos por Kardec, critérios, aliás, resultantes das experiências do grande mestre francês em parceria com o Espírito de Verdade. Inclusive a FEB recomenda no seu estatuto a obra de Roustaing como objeto de estudos, esta rechaçada por Kardec. Vê-se que desde o início no Brasil, o Espiritismo sofre ataques violentos, sendo ultrajado de uma forma abjeta, indecente, execrável.

Segundo a Doutrina Espírita, o médium é sempre responsável pelas comunicações que recebe, daí ser imprescindível que busque se melhorar intelectual e moralmente, a fim de atrair para si os Bons Espíritos, e estar menos sujeito a mistificações. É inegável que o Chico Xavier fora grande médium, portador de muitas faculdades. Mas, como analisá-lo como Ser, como uma pessoa, como um Espírito filho de Deus igualzinho aos demais? Sem o intuito de polemizar, mas de trazer elementos para que se crie margem a novas reflexões acerca desta personalidade, recorram-se às questões 100 e seguintes do capítulo primeiro da segunda parte de O Livro dos Espíritos, que estabelecem uma hierarquia entre eles.

Os Espíritos Puros, classificados como de Primeira Ordem, possuem “superioridade intelectual e moral absolutas em relação aos Espíritos das outras ordens. Alcançaram a soma de perfeições de que é suscetível a criatura; não têm mais que suportar provas ou expiações; gozam de inalterável felicidade; são os mensageiros de Deus, cujas ordens executam para a manutenção da harmonia universal.” Estas são algumas das suas características, e que, na Terra, só temos notícia de um: Jesus, embora seja sabido que existam os que lhes são iguais ou superiores, e ainda, sendo perfeitos, lhes são inferiores, afinal, não se pode esquecer da relatividade nesta hierarquia.

Os da Segunda Ordem, denominados como Bons Espíritos, se distribuem em quatro classes: Benevolentes, Sábios, de sabedoria e Superiores. Genericamente, e entre outras, são caracterizados por possuírem “predominância do espírito sobre a matéria; desejo do bem; uns têm a ciência outros a sabedoria e a bondade. Os mais avançados reúnem o saber às qualidades morais. Não estando ainda completamente desmaterializados, conservam, mais ou menos, segundo sua categoria, os traços da existência corpórea, seja na forma da linguagem, seja nos seus hábitos, onde se descobrem mesmo algumas de suas manias; de outro modo, seriam Espíritos Perfeitos.Quando encarnados, são bons e benevolentes para com os semelhantes. Não os move nem o orgulho, nem o egoísmo nem a ambição.“

Os da Terceira Ordem são os Espíritos imperfeitos distribuídos em cinco classes. “Predominância da matéria sobre o Espírito; propensão ao mal; ignorância, orgulho e todas as más paixões que lhe são conseqüências”, estas algumas de suas características gerais.

O próprio Codificador assinalou que “de um grau para o outro a transição é insensível e sobre seus limites a pequena diferença se apaga como nos reinos da Natureza, como nas cores do arco-íris, ou ainda, como nos diferentes períodos da vida do homem.” Assim, fica menos difícil um julgamento mais apropriado acerca da personalidade em análise.

Para qualquer pessoa sensata é muito óbvio que o Chico não é um Espírito Puro, perfeito. Daí não fazer sentido o imaginar que ele esteve isento de mistificações; aliás, no Livro dos Médiuns, está esclarecido que não há médium perfeito na Terra, que “o melhor (médium) é aquele que, não simpatizando senão com os bons espíritos, foi enganado o menos freqüentemente.”(OLM- cap XX – item 9) Ou seja, todo médium, mesmo tendo a assistência dos bons Espíritos, não está isento do assédio dos Espíritos inferiores e nem de ser enganado. No item seguinte está registrado que “os bons Espíritos o permitem, algumas vezes, com os melhores médiuns, para exercerem seu julgamento e lhes ensinarem a discernir o verdadeiro do falso...” Ou seja, nem o médium, nem seus editores, nem os adeptos seus leitores, puderam atender a esta recomendação.

Sobre este aspecto, errou o Chico, e todo o Movimento Espírita com ele, afinal, alguém quis esclarecê-lo? Porque as editoras que o tutelaram não perceberam os erros gritantes? Das duas uma: ou houve negligência ou espaço para a ambição, já que o sucesso nas vendas era garantido. Veja-se o que o item 303 de O Livro dos Médiuns traz, em resposta sobre os meios de se preservar das mistificações: “...Os Espíritos vêm vos instruir e vos guiar no caminho do bem, e não no das honrarias e da fortuna, ou para servir às vossas paixões mesquinhas...” No item posterior, o Espírito de Verdade adverte: "...Deus permite as mistificações para provar a perseverança dos verdadeiros adeptos e punir os que dele fazem um objeto de diversão.”(nm) E em nota, Kardec assinala: ”...somos bastante felizes por termos podido abrir, a tempo, os olhos a várias pessoas que decidiram pedir nosso conselho, e lhes haver afastado de ações ridículas e comprometedoras...” Este lembrete é para alertar que o movimento espírita acolhe outras fontes, menosprezando os ensinos kardequianos e Espíritas, dando ensejo às aberrações que já foram denunciadas desde tempos atrás pelos grandes estudiosos do passado, e agora, repetidas pelos do presente, que cada vez encontram mais e mais distorções.

Mas não ser um Espírito perfeito, conseqüentemente não ser um médium perfeito, em nada desabona a pessoa do Chico, primeiro porque ele jamais se declarou como tal, ao contrário, sempre frisava que ainda tinha muitas imperfeições; segundo porque, como se encontra em aprendizado, tem o mesmo direito de errar dos demais.

O Chico sempre trabalhou muito, em dedicação à família e ao próximo; ainda muito jovem sua saúde começou a ser comprometida, e, com o passar dos anos, foi se debilitando ainda mais. Aos poucos também foi perdendo a visão, o que o impossibilitava de ler, e talvez isto explique o fato de não ter passado em revista as psicografias recebidas. Ao que consta, era de uma personalidade doce, delicada, ingênua mesmo. Definitivamente, não era o tipo de pessoa que tem a sagacidade dos grandes gênios, tanto que confiara todos os seus originais a uma instituição sem garantia alguma, e tudo isso junto põe em dúvida a autenticidade do conteúdo das publicações.

Porém, querer classificá-lo na ordem dos Espíritos imperfeitos não parece muito adequado. Apesar de suas obras serem de conteúdo roustainguista, e isto está mais que provado através de estudos minuciosos de pessoas muito sérias, mas é preciso separar o homem do médium e o médium do Espírita. A influência católica esteve presente em toda a sua vida, portanto talvez o Chico nunca tenha sido um adepto convicto do Espiritismo, o que também não o desmoraliza, pois o título de Espírita jamais oferecerá benefícios espirituais a alguém. Também, não ter sido fiel aos postulados da Doutrina Espírita, se deixando influenciar pelo Roustainguismo, não diminuiu em nada suas conquistas morais.

O Chico viveu mais de noventa anos, e ninguém jamais, em tempo algum testemunhou um gesto ou uma palavra má saída de sua boca. Só os loucos quererão imaginar se alguma vez tenha ele pensado algo indigno, afinal, só Deus pode apreciar os pensamentos de suas criaturas. Tinha o desejo do bem; seu Espírito predominava sobre a matéria; era bom e benevolente para com os seus semelhantes; não era movido nem pelo orgulho, nem pelo egoísmo nem pela ambição. A vida dele demonstra isso: morava numa casa simples, nunca angariou nada para si mesmo, nunca pretendeu honrarias, vivia de sua aposentadoria que era de um salário mínimo; sem ter a ciência completa, tinha a bondade. Porque para alguns é tão desconfortável admiti-lo como um homem bom? Ou será que está reservada somente aos profundos conhecedores do Espiritismo a capacidade de alcançar a virtude da bondade?! Erro grave, pois as conquistas intelectivas são muito mais fáceis de ser conseguidas do que as morais. Seria uma pusilanimidade frisar a passagem do Chico nesta última reencarnação apenas pelo seu lado fraco, pois se o médium falhou, o homem cresceu, sedimentou valores cristãos. O verdadeiro espírita não tem que se preocupar apenas com as aquisições intelectuais, mas acima de tudo as morais, cristãs.

Como médium o Chico deixou a desejar, por ter sido muito crédulo em encarnados e desencarnados mal intencionados ou ignorantes, mas como homem foi e é um exemplo de vida, e querer negar isto é forçar uma falsa realidade. A mediunidade está desvinculada do Espiritismo, assim como também o está da Moral. O Espírita sincero tem, necessariamente, obrigações morais a cumprir, especialmente consigo mesmo, aliás, exclusivamente consigo mesmo. E como negar que moralmente falando o Chico Xavier se encontrava quites com sua própria consciência por cumprir seus deveres cristãos com seu próximo?

A abundância de publicações com suas histórias sedutoras foram fazendo do Chico um ícone da mediunidade, um best seller e, claro, renderam muitos milhões, não para ele mesmo, mas para diversas instituições, inclusive a própria FEB. Outra vez pergunta-se: porque não o esclareceram sobre os equívocos recorrentes? O que faziam, ou onde se encontravam os que se diziam seus amigos, os que estavam com ele no trabalho mediúnico incluindo a própria editora de seus livros? Quais os interesses envolvidos? A quem interessou fazê-lo mito? Há que se considerar, inclusive que, sendo um Espírito em evolução como qualquer outro filho de Deus, pôde se enganar de boa fé. Isto representa para todos mais um aprendizado, e não um motivo para execrá-lo. Em seus ensinamentos, Jesus acolheu a todos, e seus discípulos mais fiéis não eram necessariamente modelos nem de saber nem de virtude. Acolheu em seus braços amorosos uma prostituta, incluiu um cobrador de impostos no seu grupo discipular, comeu com o chefe destes; Jesus era o médico que estava sempre ao lado dos doentes. Portanto, questione-se: quem possui autoridade para querer a exclusão deste trabalhador que até podia não ser Espírita, segundo a acepção reservada ao termo, mas certamente era cristão, da Doutrina? O movimento espírita vigente criou um mito como a mídia comum cria os seus mitos, mas com a diferença de que os resultados para o segundo caso abrangem tanto uma como outros. O Chico não tirou nenhum proveito para si mesmo de tudo o que ocorreu, do uso que fizeram dele. Há várias estórias que envolvem o seu nome, como que para imprimir autoridade, justificando atitudes nem sempre sensatas. Tem “causos” que pecam pelo forte teor fanático não merecendo nenhuma credibilidade. Para nós, particularmente, o Chico foi explorado tanto por encarnados como pelos Espíritos que ele mesmo tanto respeitava, na sua simplicidade ingênua, pueril. Foi mistificado principalmente pela instituição que o tutelou. Enganou-se de boa fé, por acreditar que os que o cercavam eram como ele - desprovido da maldade que azeda o coração; por enxergar em todos, irmãos credores de seu respeito.

Embora não caiba a ninguém a autoridade para julgar em que patamar evolutivo os outros estão, pode-se acreditar o Chico como um Ser entrando na quinta classe da segunda ordem * – um Espírito benevolente, cujos caracteres são: “sua qualidade dominante é a bondade. Alegram-se em prestar serviço aos homens e protegê-los, mas seu saber é limitado. Seu progresso é mais efetivo no sentido moral do que no sentido intelectual.”

Repitam-se os esclarecimentos da Codificação: ”Quando encarnados, são bons e benevolentes para com os semelhantes. Não os move nem o orgulho, nem o egoísmo nem a ambição. Não experimentam ódio, rancor, inveja ou ciúme, e fazem o bem pelo bem.“

Vale também lembrar as palavras indeléveis do Mestre Jesus: “É pelos frutos que se reconhece a árvore.”

É evidente que os livros, mais de quatrocentos, têm utilidade para muitas pessoas: levam consolo, levam lições moralizantes, embora algumas repletas de remanescentes católicos; além de desenvolver o gosto pela leitura, devido à facilidade que muitos encontram de compreensão dessas obras. Há que se considerar que os adeptos do Espiritismo, não estão todos no mesmo nível de discernimento; há que se ter tolerância para com aqueles que não conseguem ler e estudar Kardec ainda, mas buscam se melhorar interiormente. Muitos não dominam o conteúdo Espírita, mas se preocupam em adquirir novos valores para nortear suas vidas. O cuidado que se tem que ter é com aqueles que, de alguma forma, manipulam e distorcem pessoas e situações, para tirar algum proveito. Aliás, a leitura por si mesma, é inofensiva: ela é a ferramenta para se discernir o que é válido ou não, segundo os parâmetros Espíritas, estando o grande problema na assimilação dos conceitos que ela traz. E enquanto não houver um Movimento realmente Espírita, dificilmente seu conteúdo será assimilado e compreendido, senão por todos, mas ao menos por uma maior parcela.

A comunidade espírita está acomodada, dir-se-ia, muito acomodada, numa inação que beira a morbidez, e como todo estado mórbido é preocupante, pergunta-se: quem realmente está preocupado com este estado de coisas? Ou por outra: é lícito que isto seja objeto de preocupação? Se cada um cumprir o seu papel, o que lhes cobra a consciência, não será suficiente para que as coisas se ajeitem? Mas, e o movimento espírita que só se movimenta usando a antonomásia de espírita sem promover um passo real rumo ao estudo e divulgação séria do Espiritismo?

Criticar o Chico Xavier ou tomá-lo por bode expiatório não resolverá o problema das mistificações que foi e é exposto todo o movimento espírita vigente. Outros médiuns publicaram, publicam e publicarão histórias inverídicas e ensinamentos os mais absurdos se não houver uma real movimentação do Espiritismo no Brasil, no mundo. Por enquanto, os estudos e investigações isolados é que podem abrir caminho para que um dia surja um Movimento Espírita de verdade.

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* NOTA: Há controvérsias quanto a isto. Xavier, por ter sido ingênuo e submisso e recusado o seu livre arbítrio (ele justificou que era "burro" porque não podia se intelectualizar por causa de um "castigo" por ter usado mal o intelecto na vida passada - o que caracteriza uma crença evidentemente católica de "erro/punição, descontando a reencarnação), deu sinais de que não era um ser evoluído. Até a moral dele não tinha nada de extraordinário, embora exista muita forte mitologia sobre isso (para os espiritólicos, a evolução moral basta), ainda não contestada pela maioria. Xavier era tão bondoso quanto qualquer pessoa de evolução medíocre e por incrível que pareça, ele assumia isso, fato que seus admiradores tem o hábito de esquecer. Em suma: ele não era um espírito evoluído, sendo de medíocre a mediano, com muitas lições para aprender.