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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

A identidade dos Espíritos e o excesso de credibilidade

NOSSO COMENTÁRIO: A Doutrina Espírita é a doutrina do raciocínio, da razão. Aceitar sem checar é algo que combina com outras religiões, mas não com a codificada por Kardec, um cientista responsável. Kardec Já alertava que não podemos acreditar em tudo que nos dizem, nem mesmo disfarçado sob o rótulo de "revelação espírita".

Afinal, não acreditemos em todos os espíritos, é preciso nos informar antes.

A identidade dos Espíritos e o excesso de credibilidade

Por Maria Ribeiro - 12:03 O Blog dos Espíritas

A importância capital na distinção dos Espíritos diz respeito, a saber-se se são bem ou mal intencionados, sábios ou ignorantes, sendo o restante de importância secundária, salvo se tratar-se de identificá-lo como pessoa desencarnada de nossas relações, onde se faz necessária a comprovação da identidade. A identificação será mais difícil quando tratar-se de personagens antigas, por isso a orientação em O Livro dos Médiuns, em que “a apreciação será puramente moral”.

A linguagem é apontada como principal forma de identificação, ao menos moral e intelectual do Espírito. Aliás, há entre eles, quando há concordâncias de idéias, o costume de assinar com um nome que imprima mais confiabilidade, sem por isso tratar-se de um Espírito mal intencionado; estes são mais esclarecidos, que, conservando sua individualidade, vão perdendo aos poucos os caracteres que distinguem sua personalidade. Também há os que se fazem passar por personagens veneráveis, mas com o intuito de enganar, e, claro, estes são sempre de ordem inferior.

“A questão da identidade é, pois, como dissemos, quase indiferente quando se trata de instruções gerais, uma vez que os melhores Espíritos podem se substituir uns aos outros sem que isso tenha conseqüência. Os Espíritos superiores formam, por assim dizer, um todo coletivo, do qual as individualidade nos são, com poucas exceções, completamente desconhecidas. O que nos interessa não é a sua pessoa, mas o seu ensinamento...”(cap XXIV – 256 – OLM)

Analisando estas sábias instruções, testemunha-se outra realidade no meio espírita, visto que grande parte dos profitentes adoram saber quem é quem. A curiosidade pelo nome do irmão desencarnado é maior que o interesse em interiorizar o ensinamento deixado por ele.

Não é de nosso costume pessoal, citar nominalmente nenhuma personalidade, antiga ou contemporânea, mas neste caso particular nos vemos obrigada a este proceder, dada a necessidade de uma análise que possa trazer novas reflexões acerca do assunto. Que não se entenda nas nominações nenhum laivo de depreciação, já que não é este o objetivo.

Há exemplos que se tornaram clássicos; um deles diz respeito ao Espírito Bezerra de Menezes, que segundo uns, foi Zaqueu, contemporâneo de Jesus. Outro exemplo é o de Francisco de Assis, afirmado como João, discípulo do Cristo. Outra opinião diz que o Espírito Miramez é o mesmo jovem rico de uma conhecida passagem evangélica. Há os que afirmam ser a Madre Tereza de Calcutá a mesma Maria de Magdala. Joanna de Angellis teria sido Joana de Cusa, também discípula cristã. Os exemplos mais difundidos são, entretanto, o de Emmanuel como o controverso Publio Lentullus, e André Luiz, como sendo Carlos Chagas, um médico sanitarista que viveu na cidade Rio de Janeiro; e com exceção deste, todos os outros estiveram com o Cristo...

Estas informações surgiram, decerto, através de desencarnados ignorantes ou mal intencionados, e ganharam credibilidade geral, sem nenhum exame, aliás, como provar que um Espírito nascido no século XIII como Francisco de Assis tenha animado um homem no tempo de Jesus, como João? Quem se arriscaria a dar cem por cento de certeza?

Se com os Espíritos que viveram no passado mais distante é impossível comprovar a identidade, com os que viveram mais recentemente é viável realizar um levantamento histórico e descobrir fatos que tornem (ou não) a comprovação identificatória algo concreto.

Nada impediria que André Luiz, por exemplo, fosse o Carlos Chagas, não fossem as discordâncias das informações. Segundo seus biógrafos, Carlos Chagas ficou órfão de pai aos quatro anos; viveu grande parte de sua vida e desencarnou no Rio de Janeiro, é bem verdade, mas era mineiro de nascimento. Seu desencarne se deu em 1934, ironicamente, de infarto do miocárdio, aos cinqüenta e cinco anos de idade. Estes dados estão em flagrante contradição com os oferecidos por André Luiz sobre sua biografia: morreu aos quarenta e poucos anos, durante uma cirurgia de câncer intestinal. Convivera com o pai, tanto que relata em Nosso Lar um episódio onde, juntamente com este, repreende um personagem de nome Silveira, por causa de uma dívida, além de afirmar que o pai desencarnara três anos antes dele, André (cap. 7); relata ter deixado três filhos, mas ora fala de um primogênito (cap. 6), ora fala de uma primogênita (cap. 49); enquanto Carlos Chagas teve dois filhos, que na época de seu desencarne já eram adultos e diplomados. Há também uma dificuldade cronológica, pois, tivesse desencarnado em 1934 e passado oito anos no umbral, André Luiz jamais teria condições de estar presente quando da explicação de Lísias em relação ao início da Segunda Guerra Mundial (cap. 24), em 1939. Na ocasião, ele já se encontrava perfeitamente restabelecido. Não se quer repetir a imprudência das especulações, sempre pouco ou nada proveitosas, mas aventamos: ou seja, seu desencarne se deu no máximo em 1930 e seu nascimento entre 1885 e 1888, e não em 1879, como o de Carlos Chagas. Isto, aliás, se forem corretas tais informações oferecidas na obra.

Sobre a questão moral, também não há registro da vileza de comportamento do grande cientista mineiro, conforme o autor de Nosso Lar se confessa portador, principalmente na juventude, quando diz ter enganado uma jovem empregada de sua casa que foi posta na rua por seu pai... Como, se Chagas era órfão desde os quatro anos, assumindo o papel de “homem da casa” aos quatorze, e passando a viver no Rio de Janeiro por volta dos dezoito?! São palavras de Eurico Villela, professor e médico, colaborador de Chagas:

“Sua compaixão pelo sofrimento alheio, sincera e profunda, não era, porém, passiva e resig-nada. Para atenuá-lo nunca se poupou, tudo dava de si num esforço que não distinguia o dia da noite, torturado na angústia de remediar o inelutável”.

“A nobreza de caráter e a desambição são outras características da sua personalidade. Quando, em 1919, o governo lhe outorgou um prêmio em dinheiro, no valor de cinquenta contos de réis, elevada importância para aquela época, abriu mão do mesmo em favor da construção de um monumento a Oswaldo Cruz. Ao acumular duas funções públicas, a de Diretor do Instituto Oswaldo Cruz e Diretor do Departamento Nacional de Saúde, aceitou apenas os vencimentos de uma das funções.” (fonte: Vertentes da Medicina, Joffre Marcondes de Rezende, São Paulo, editora Giordano, 2001).

Ao que consta, Chagas nunca teve nenhum de seus filhos “a praticar loucuras”, (cap. 49). Ao contrário, foram tão brilhantes quanto ele mesmo. Um deles desencarnou prematuramente, em 1940, aos 35 anos de idade, deixando várias obras consagradas. Já o filho mais moço que leva seu nome desencarnou no ano 2000, também um grande cientista e pesquisador. Não consta que sua esposa tenha contraído segundas núpcias, conforme André afirma que a sua tivera. Dona Íris Lobo desencarnou dezesseis anos depois do marido, em 1950, não podendo constatar-se que tenha se casado novamente após a viuvez.

Apenas com estas informações vê-se a impossibilidade de tratar-se do mesmo Espírito. Em suma, André Luiz e Carlos Chagas são duas individualidades distintas. André pode ter sido um admirador, talvez integrante da mesma equipe de médicos sanitaristas, ou talvez atuasse num outro grupo com os mesmos objetivos, sem evidentemente o mesmo brilhantismo de Chagas, (embora Emmanuel no prefácio, se refira a ele como “médico terreno e autor humano”) já que consta que o ilustre cientista mereceu honras, recebendo prêmios em vários países do mundo.

Com relação às outras personagens, é manifesta a impossibilidade de se fazer o mesmo estudo. Quem foi Madre Tereza de Calcutá? Maria de Magdala, só porque fora prostituta, regenerou-se e reencarnou envergando a indumentária de uma freira? Porque isto faria sentido? O personagem Emmanuel já tivera sua identidade investigada e que, por hora, se encontra sob suspeita. Outros Espíritos têm sido objeto de investigação, mas definitivamente, as especulações acerca dos supracitados que viveram séculos atrás se fazem infundadas.

Porque Joanna de Angellis teria sido a mesma Joana de Cusa, discípula de Jesus? Ao que parece ela mesma traçara sua biografia, partindo daquela personagem; ou seja, ninguém tem como provar que isto seja real, mas o bom senso tem um peso enorme sobre isto: esta informação deveria ficar engavetada até sabe-se lá quando, mas jamais ter sido difundida.

Os Espíritos Codificadores alertaram para a importância das instruções advindas dos Espíritos: o que tem relevância são as características morais que eles denotam, e para isto tem-se que estar atento. Descrevem tais características, comparando os bons e os maus Espíritos. O 23° princípio, inserto no capítulo XXIV de O Livro dos Médiuns, diz:

“Não basta interrogar um Espírito para conhecer a verdade. É preciso, antes de tudo, saber a quem se dirige; porque os Espíritos inferiores, ignorantes eles mesmos, tratam com frivolidade as questões mais sérias. Também não basta que um Espírito tenha tido um grande nome na Terra, para ter, no mundo espírita, a soberana ciência. Só a virtude pode, em purificando-o, aproximá-lo de Deus e desenvolver seus conhecimentos.”

No 25º, completam: “Estudando-se com cuidado o caráter dos Espíritos que se apresentam, sobretudo do ponto de vista moral se reconhece sua natureza e o grau de confiança que se lhe pode conceder. O bom senso não poderia enganar.”

Parece claro, mas não é uma aplicação prática no meio espírita. Aliás, os Codificadores deram também uma receita nem sempre fácil de realizar-se: eles ensinaram que para julgar os espíritos é preciso saber primeiro julgar a si mesmo. E continuam: “Infelizmente, há muitas pessoas que tomam sua opinião pessoal por medida exclusiva do bom e do mau, do verdadeiro e do falso; tudo o que contradiga sua maneira de ver, suas idéias, o sistema que conceberam ou adotaram, é mau aos seus olhos.”

Não é o que se presencia no Movimento Espírita? Cada um se vê no direito de interpretar a obra segundo o próprio entendimento, não permitindo exames, nem críticas, nem questionamentos, e isto não é um proceder que se possa chamar Espírita. Há várias décadas que grande parte dos profitentes aprende e ensina que André Luiz foi Carlos Chagas, embora já existam, desde muito tempo, resultados de pesquisas que provam tal impossibilidade, não sendo possível se chegar a uma conclusão exata sobre a personalidade real de André Luiz. Aliás, nenhum dos nomes cotados, como Oswaldo Cruz e outros, se enquadra no perfil de André. O fato em si, conforme pontuaram os Espíritos, não é relevante. O Espírita, manda o bom senso, deve aprender com eles o que for bom e útil, não se esquecendo de que, apesar de demonstrarem bondade e boas intenções, têm ainda limitações do saber, portanto, nem tudo o que disserem será verdadeiro. Mas, questiona-se: porque um Espírito que se esconde atrás de um pseudônimo, cujas razões foram explicadas, ao ter sua identidade questionada, não desfaz os equívocos a que teve que recorrer, justamente para não ser descoberto? E, não sendo Carlos Chagas, porque permite tal engano? Aqui entra uma nova questão: considerando tal estado de coisas como uma prova, pode-se concluir pela falência quase total do movimento espírita brasileiro: deslumbre excessivo pelas manifestações copiosas, fáceis, para as quais se creditou grande valor, sem a preocupação com as orientações do mestre Kardec. Os Espíritos Codificadores advertiram mais de uma vez sobre as necessidades básicas do exame sério e frio; traçaram diretrizes seguras para que se evitasse todo o tipo de equívocos. Coube aos homens colocarem em ação o que aprenderam com a Doutrina Espírita e exercerem seu poder de raciocínio, sua inteligência e discernimento. E tudo o que fizeram foi cair nas armadilhas do caminho... Se achando muito espertos.

Cabe, ainda, aos homens colocarem em prática o que aprendem com a Doutrina, exercitar o raciocínio, a inteligência e o discernimento, reconhecendo que ainda há grande ignorância e tibiez de vistas a vencer para que se compreenda o Espiritismo na sua grandiosidade e sublimidade.

Os adeptos sinceros devem procurar sempre e acima de tudo a verdade, evitando os pactos com supostas verdades, as que nascem do orgulho e da vaidade dos modernos “doutores da lei”.
É inútil no atual momento querer repetir-se o mesmo regime repressor dos tempos idos. Os questionamentos vão se tornar cada vez mais acirrados, as discussões mais vivas, e só restará o insulamento para os que pretendam intimidá-los, porque, apesar de tudo, os homens evoluem!

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